As pesquisas que visam explicar as dificuldades de leitura muitas vezes não
conseguem identificar uma homogeneidade no perfil de leitores com dificuldades
de compreensão (LDC) cuja principal característica é o déficit na compreensão
leitora apesar de sua boa decodificação. A maioria das investigações exploram os
fatores cognitivos como memória e vocabulário. Poucas se interessam em
identificar o perfil dos LDC através da avaliação de outros aspectos como os
hábitos de leitura. Neste trabalho, buscamos traçaro perfil de LDC e compará-lo
com o perfil de bons leitores (BL) de modo a poder verificar se além das diferenças
de desempenho, já conhecidas, os grupos também se distinguem em outros
aspectos relacionados à leitura. A partir da seleção, que envolveu a avaliação da
leitura de palavra isolada e a avaliação da compreensão de texto escrito,
identificamos 49 BL e de 37 LDC dentre 336 estudantes de 8ª série. A investigação
do perfil dos grupos foi realizada por meio de um questionário escrito que os
próprios participantes responderam. Os dados revelaram diferença na experiência
dos grupos com a leitura, sendo essa significativa na autoavaliação, interesse,
frequência de leitura e número de livros lidos. Confirmamos que os LDC têm um
perfil mais heterogêneo do que os BL, o que torna difícil a generalização de suas
características. Além disso, verificamos a existência de correlação positiva entre
o desempenho em compreensão leitora e o número de livros lidos pelos
estudantes. Por fim, constatamos que o questionárioé um importante instrumento
de pesquisa que pode auxiliar na compreensão das diferenças entre BL e LDC,
necessitando ser expandido futuramente para orientar tanto estudos teóricos
quanto intervencionistas e até mesmo a prática pedagógica.
Resumo publicado em:
(Per)cursos (Inter)disciplinares em Letras :: ISSN 2175-1978 :: UNISC, 2017
http://www.unisc.br/site/coloquio2017/
quarta-feira, 6 de setembro de 2017
quarta-feira, 21 de junho de 2017
Diferentes visões e componentes da compreensão leitora
Profa. Dra. Lucilene Bender de Sousa
Profa. Dra. Lilian Cristine Hübner
A compreensão é um
processo cognitivo amplo que ocorre em diferentes níveis de consciência quando
nos deparamos com fatos, movimentos, objetos, imagens, sons, letras, etc. Assim
que nossos órgãos capturam esses sinais externos, nosso cérebro parece buscar um
sentido para eles, o que ocorre principalmente por meio da conexão desses
sinais com nossas memórias, conhecimentos e experiências prévias. Parece que
estamos sempre tentando reconhecer padrões. Um exemplo disso é quando vemos um
desenho e tentamos determinar com o que ele se parece. A compreensão, portanto,
depende muito da memória e das relações que estabelecemos entre o novo e o
velho. De certa forma, pode ser considerada subjetiva, já que depende das
experiências, as quais são únicas para cada indivíduo. Ao mesmo tempo, também
pode ser coletiva porque o indivíduo é constantemente influenciado pelo meio
social onde vive e faz a sua história. A compreensão em seus múltiplos aspectos
cognitivos e sociais, subjetivos e racionais, é um processo que perpassa muitas
tarefas cotidianas, desde a comunicação oral, a leitura, a escrita, o cálculo,
até o aprendizado de modo geral.
Apesar de sua
amplitude, a compreensão é pouco estudada fora da modalidade escrita, na qual
se (con)funde com a noção de leitura. A compreensão em leitura se diferencia
das demais por sua especificidade linguística. Mas o que é, afinal, a leitura?
Existem muitos conceitos de leitura dependendo do ponto de vista que se adota:
linguístico, cognitivo, social, literário, fenomenológico, etc. (LEFFA, 1996).
Nossa visão fundamenta-se nas interfaces da psicologia cognitiva com a
linguística, em uma área denominada psicolinguística. Por meio dessas
interfaces, buscaremos abordar as questões introdutórias sobre o tema: seria a
leitura apenas o reconhecimento das palavras, como sugere Kamhi (2009b)? Seria
apenas a compreensão, a construção de sentido, como propõe Smith (2003)? Ou
seria uma combinação dessas duas habilidades, como indica a Visão Simples da
Leitura (Simple View of Reading) de
Gough e colegas (1996)? Teoricamente, as posturas com relação à leitura e à
compreensão variam das mais restritas às mais abrangentes, como explicamos a
seguir.
O TEXTO NA ÍNTEGRA ESTÁ PUBLICADO NO LIVRO:
Assinar:
Postagens (Atom)